06/05/2017

unhas amarelas

Entrei, pontual e opaca, eram as horas combinadas e marcadas no compasso da agenda, um bocado de vazio naquele meu bocado de vida.
Peguei nos mostruários, sabendo de antemão que era vermelho o que queria ter nas mãos, encostei um amarelo aos dedos, disse ela
Ah, não, amarelo não, minina. Minina não vai pôr amarelo,
e eu que não, que era uma vontade não bem minha, um desejo incontido de experimentar,
mas já passou.
Pus o dedo indicador debaixo de outro amarelo,
Então e este?,
ela convicta nada convencida,
Ah, não, minina.
Estás triste, minina?, ela a perguntar-me enquanto me tingia as unhas de vermelho-pouco-amarelo.
Podia ter optado por um sorriso amarelo, podia, sim, podia, pois. 
Não,
e dei-lhe o meu melhor vermelho-inverosímil.