16/11/2016

A vergonha alheia existe, ou é simplesmente vergonha?

Ela anda aí pelas redes sociais, a levar tareia pelas declarações infelizes que proferiu. Merecida tareia, que não há como dar a volta àquele texto, dar o dito por não dito, virar o bico ao prego ou à agulha. Ainda que se esmifre em justificações, de que respondeu a uma pergunta da jornalista, sobre o que diria aos pais de um toxicodependente, e lhe terá saído (em resposta a essa questão, pasme-se) que ter um filho homossexual é como ter um filho toxicodependente, nada parece jogar certo naquela cabeça, nada explica que alguém ainda seja assim, num Mundo globalizado e tendencialmente esclarecido. 
É a mesma pessoa que fez parte das minhas relações pessoais, há uns anos atrás. Nunca fomos amigas de frequentar a casa uma da outra, mas dávamo-nos razoavelmente bem. Ela era uma mulher prática, desempoeirada, tida como simpatizante de esquerda. Um dia, sem que alguém do grupo que ambas integrávamos percebesse, canonizou-se, converteu-se, mistificou-se. Já não é a primeira pessoa que vejo sofrer uma mudança de forma tão radical, como se tivesse visto a luz, ficado hipnotizada e entrasse num transe religioso qual coma social, mergulhasse de cabeça na Igreja Católica, e ficado assim: com duas palas nos olhos e uma mentalidade correspondente à da Europa na Idade Média. Lembro-me que foi, efectivamente, este novo registo dela que nos afastou de vez. O diálogo tornou-se impossível, porque falávamos línguas distintas, a minha impressão dos julgamentos mentais dela causava-me um certo incómodo, as tentativas de evangelização puseram-me a fugir, literalmente, como o Diabo da cruz. Neste momento, penso que muito poucos — como JAS — terão capacidades para(normais) entender aquele tipo de discurso.


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