23/07/2016

estrela

Afundada em mais um trabalho maior do que eu, que me leva o tempo e o alento, afogada no calor que cobre a cidade e julgo que o país, não alcanço o mar ao longe, menos ainda ao perto. 
Lembro-me das estrelas do mar que davam à costa na Costa, era eu tão pequena que me saíam maiores do que as minhas mãos. Umas estavam vivas, e sabia-o por vê-las mexerem-se, os cinco bracinhos de Davi às quais faltava um, penta em vez de hexa, outras só não estavam, por as ver quietas, secas e rijas como ficavam os peixes, quando perdiam a água e se perdiam sem ela. De tão pequena que era, acho que já disse, nem sabia se eram animais ou plantas, ou talvez estrelas do céu, caídas no mar por confusão entre azuis. Certezas, só tinha a que me acompanha até hoje: a de que o Criador havia de ter tido dias de grande falta de imaginação, e então repetia-se, copiava-se, ou, mais modernamente, plagiava-se — pois se mar e céu em tantos tons se reproduziam, que novidade haver estrelas num e noutro?
Vem isto a propósito de hoje, de agora, deste preciso momento, em que me sinto transmutada numa estrela do mar, dessas assim, igualzinha às que via quando ainda nem na palma da minha mão caberia colada uma, dedo a dedo. 
Continuo sem saber se sou um animal ou uma planta, mas vejo-me penta, sinto-me seca, e estou longe do mar.

4 comentários:

  1. Respostas
    1. tenho, mas é que trabalho ao computador, arrisco-me a electrocutar-me :)

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  2. Respostas
    1. Bela solução, para além de boa. Manda :)

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