22/10/2015

Podia bem ser meu filho, aquele miúdo

Nasceu quatro semanas antes do meu, e proveio de uma barriga que ocupou a barriga da minha mãe poucos meses antes de ocupá-la eu também. Somos muito próximos, por isso. Quase meu filho, eu quase mãe dele. 
Brincámos às casinhas e às bonecas, a mãe dele e eu. Brincámos, muitos anos mais tarde, aos bonecos de carne e osso, de loja em loja, de centro ecográfico em centro ecográfico. (Estou, aliás, convencida, que foi esta aproximação geográfica, da minha com a barriga da mãe dele, que originou e gerou e gestou esta aproximação genética irreprimível, e não tão-só o nosso efectivo estreito parentesco.)
É ela quem repara nas semelhanças — na maneira de estar, na forma como sai de cena e voa para o planeta de vez em quando, nas conclusões que tira, na maneira como conta as suas histórias: eléctrico, cândido, mirabolante, fervilhante.
Como é que é possível, sendo ele meu filho, ser tão igual a ti...?
Queixa-se das dores de uma queda que deu no dia anterior, na escola, por ter elevado um pé no ar, demasiado alto para a abertura de pernas que tem, e que o fez cair redondo no chão.
Lembras-te que eu fiz isso, exactamente assim, numa festa em casa da Marta? Não sei bem o que é que eu queria atingir com o pé, mas acho que era a bola de espelhos. Doeu-me tanto o rabo...
Ele ri-se, de gosto, de gozo, de simbiose e gemelaridade. 
Eu rio-me da memória absurda e das partidas que a vida nos prega. 
Também os nossos risos ecoam em eco perfeito.

(Àquela velha máxima "Olha que podes ter um filho assim", deveria acrescentar-se "ou um sobrinho...")

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