27/10/2015

Não basta ser, é preciso parecer

A questão das prioridades também não é fácil de explicar às pessoas, quando nos calha a nós termos que ensinar.
Num mundo que se quer de seres iguais e sem discriminações, respeitando as diferenças de cada um, é difícil fazer entender por que é que se há-de dar passagem às senhoras nas portas, ou por que é que as senhoras sobem as escadas atrás dos homens. Na verdade, pode não ser privilégio nenhum uma ou outra delicadezas: para lá da porta pode estar um ladrão, um balde de tinta ou uma bomba. Ou, ao subir as escadas à frente, o homem pode tropeçar e resvalar escadas abaixo para cima da desgraçada, arrastando-a consigo para o fundo. 
Num mundo civilizado, assim como deveria ser o nosso, as senhoras teriam prioridade nas portas; prioridade para sentar na única cadeira vaga; prioridade para serem salvas; prioridade para serem despedidas; prioridade para serem maltratadas. Ai, não, estas duas últimas não eram deste texto. Credo, não me funciona o delete, que grande contratempo.
Talvez as senhoras sejam, efectivamente, mais frágeis do que os homens, mas eu não percebo por que é que a assunção desta coisa tão gritante faz comichão a tanta gente. As senhoras têm os filhos, têm o período, pesam menos e têm menos força física. Têm mais indisposições limitadoras e incapacitantes. Têm mais vezes vontade de chorar. Choram mais vezes e tudo. Assim determinam as hormonas, que são umas substâncias químicas que mandam em tudo o que uma pessoa feminina pensa, sente, diz ou como age. Uma maravilha, se virmos isto na perspectiva da isenção de responsabilidades para quase tudo o que nos acontece na vida, incluindo as coisas boas. Por exemplo, um filho tem uma boa nota na escola: parece que ficamos contentes porque, nesse dia, a (nossa) lua ditou que era para estarmos contentes, não é porque o rapaz até se saiu bem a matemática que ficamos contentes, porque, se fosse dia de ficarmos tristes, o rapaz podia ter 20 a matemática que nós íamos chorar baba e ranho e outros excrementos semelhantes só por a vida ser tão injusta que a p. da escala havia de acabar no 20 e nós achamos que ele merecia 21.
É claro que há excepções, que me estragam as teorias todas: há senhoras que têm muita força. Outras que usam a tal fragilidade para adquirirem vantagens. Outras que nunca têm filhos (há mesmo umas que detestam crianças, como quem detesta cães). Outras ainda que correm tudo ao grito, ao estalo e ao coice (essas detestam crianças, cães e tudo o que mexe e não mexe). E não me venham cá fazer crer que essas choram sozinhas e a fragilidade delas é privada e íntima e secreta, mas existe, que eu não acredito.
Senhora que é senhora, é frágil, sim senhora.

6 comentários:

  1. E, vezes sem conta, frágil só em segredo...

    Beijos, Lindinha frágil/forte. :)

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    1. A maior parte das vezes...

      Beijos, Maria Poesia :)

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  2. Senhora que é senhora será sempre diferente dos senhores. E chora sim. Tantas vezes.
    :)
    Beijos LB

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    1. Pois claro, e deixem-nos, se faz favor! E deixem-nos!
      :)
      Beijos, Imp.

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  3. És mesmo muito engraçada LB !!!
    Pensas muito bem ,escreves muito bem e sempre com muita sinceridade.
    beijo,
    José

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    1. Eich, três elogios num só comentário ainda me põem mole!
      :)
      Beijos, José.

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