31/10/2014

O dia em que interrompi a mijadela a um senhor. Na rua.

Foi no mesmo local do médico de ontem. Cada vez que lá passo, lembro-me deste episódio. E ainda me dói. Eu preciso de desabafar.

Cheguei à rua do consultório cheia de pressa. Eu estou sempre cheia dela. Ia super em cima da hora, e, já disse, sou doentiamente pontual. Sou a única pessoa que conheço que manda sms a avisar de um atraso de cinco minutos. E são mesmo cinco. Se forem sete, digo sete. Só isto explica que aceitasse meter o carro no lugar indicado por um arrumador, aquela profissão. Normalmente não dou moedas, muito em particular se fui eu que vi o lugar e eles vêm de lá a esbracejar e a dar-me ordens, sente-se, deite-se, levante-se, como se eu fosse um cão e não soubesse conduzir. Mas ali era uma evidência que ele era "dono" do lugar e eu tinha que lho arrendar (tché, caluda. É arrendar. Bem imóvel). Simplesmente, eu não tinha moedas para lhe dar. Saí do carro e expliquei, "Estou sem moedas, dou-te quando voltar do médico". Ele fez um gesto qualquer e proferiu um monossílabo que queriam mais ou menos dizer "Oh, that's what you say to all the boys", que me enervou. Olhei para o relógio e ainda tinha um minuto. Curto, mas possível. Atravessei a rua, troquei uma nota e saí da pastelaria com moedas. Fui encontrá-lo encostado a um contentor de entulho. Mas é que nem pensei.

A minha pressa.

A minha revolta.

O meu medo...?

O cair da noite, pouca luz.

O homem de costas.

Nada me dizia que...

Nem sei se deva continuar. Só me apetece deitar para o chão a chorar de pena de mim e das porras que só a mim. 

Tic-tic-tic no ombro do homem.

E ele vira-se meio de ladex. Eu digo "Toma lá a moeda".

E só quando ele estende a mão e diz "Desculpe" é que eu percebo que aquela era a mesmíssima mão que acabara de segurar...

Freud, onde te metes tu quando eu preciso mais? Cão!

30/10/2014

Eu tenho problemas com médicos # 11

Sei lá se é o # 11. O Google diz que eu escrevi o # 10, portanto deve ser.

Miss hot legs (eu) da minha rua hoje fui a um médico. Como sempre, fui pontualíssima. Dizem-me duas e meia e eu estou, às duas e vinte e nove, a subir no elevador. Passo pelo crivo da mulher do médico, que é simultaneamente assistente dele, "Parece uma rapariga, o que é que faz?", ocorrem-me umas quantas ordinarices, mas respondo, estupidamente, "Não faço nada". Não lhe ia fazer ali uma lista do esforço desumano a que me sujeito todos os dias para ficar assim. É nada, sou naturalmente maravilhosa, que chatice.

Bom, metem-me à espera da minha vez, como se eu não tivesse chegado na minha hora, passo os olhos por duas revistas, belo, não conheço ninguém, não vejo televisão, não vejo reality shows, não sei o que se passa a este nível, aterrei agora ali a nave à porta, bip. Espero 1/4 de hora e fico muito nervosa. Ao fim de meia-hora de espera e vãs tentativas de perceber quem são aquelas Vanessas e Fátimas todas e do porquê de uma Cristina não sei quantas não conseguir fechar a boca, levantei-me e abordei a mulher/assistente do médico:

- Mais cinco minutos disto e vou-me embora. Por favor, vá dizer ao senhor doutor que eu tenho pressa. E à doente que lá está dentro que eu sou cirurgiã cardiotorácica e tenho uma pessoa, de peito aberto, na sala de cirurgia, à minha espera, para lhe ir operar o coração.

Ela deve ter achado boa ideia. Não sei o que disse dentro do gabinete*, mas saiu de lá já acompanhada da doente anterior e disse-me:

- Entre, doutora, senão ainda perde a sua cirurgia.

(* capaz de ter dito "Olhe, tenha paciência, mas temos lá fora uma maluquinha que umas vezes diz que é médica, outras que é padeira, é melhor darmos-lhe a vez, senão ainda nos pega fogo a isto". Que se lixe, resultou)

Nervos de aço, saúde de ferro

Entra-me no carro e avisa-me de chofre:

- Não me dês beijos, que eu tenho outra vez piolhos.

Não sei o que é pior na frase toda. Está toda errada. Não. Não me dês. Não me dês beijos. Eu tenho outra vez. Eu tenho outra vez piolhos.

Entro em transe e meto o piloto automático. Estamos cheios de pressa, tenho que continuar a conduzir. Faço um esforço por não deitar a mão ao cabelo, e agarro-me ao volante como se estivesse a pilotar um Fórmula 1. Revejo mentalmente todos os cuidados a ter. Pego no pano de limpar os vidros e forro o encosto de cabeça dele. Como se os piolhos passassem de uma cabeça para um estofo. Mas eu preciso de prevenir.

Paramos num semáforo e olho para ele. Tão giro. Piolhoso, o FDP. Ah, esse é o único nome que não posso chamar a este cabrãozinho. E estremeço de terror quando vejo passar um insecto gigante na cabeça dele. Estou com paludismo como, genitais, se nunca estive em África? Delirium tremens? Duas cervejas, no máximo, por semana e dá nisto? Mas o bicho é real. Calma, calma, calma. Nunca tive nem tenho medo de bichos, vantagem para mim. Nem baratas, nem ratos, nem cobras, nada me afecta. Sou quase santa. Mas fico histérica na mesma. Quero matar o bicho. Não quero matar. Não quero tirar a vida a nada. Quero bater no bicho, mas não quero magoá-lo a ele. Entretanto, o sinal fica verde e isso piora tudo. A seguir ao semáforo, uma curva com 180 º, e, em plena curva, dou-lhe uma palmada na cabeça, que o magoa e não mata o bicho. O animal salta para o estofo e gritamos muito os dois. Muito. 

Então, aparece-nos a polícia. Auto-stop, e nós aos gritos. Manda avançar uns, manda parar outros, a nós calha-nos a bomboka. É por ser eu. Agora ataca-me o delirium persecutionum (detonei, mais genitais!). Estamos os dois quase mortos de pânico, mas mantemos a pose para o polícia. Ele está quase um homem, sabe que não me pode falhar (mais) agora. O agente vê o selo do imposto, manda-nos avançar e é o que fazemos. Percorremos cinco ou seis metros e voltamos a gritar a plenos pulmões. 

O bicho não morre de susto, os piolhos não saem com os gritos, nós não acalmamos e eu encosto na berma. Hiperventilamos juntos. Já nenhum de nós morre de enfarte. Seguramente.

29/10/2014

Para o que me havia de ter dado

Eu já andei em cuecas no meio da rua


A memória é tramada. Às tantas isto é o Alzheimer a espreitar.

Alô, Vizela!

Nós éramos tão miúdas e passávamos tanto tempo com velhos. Levavam-nos para umas termas onde se faziam tratamentos ao reumatismo, palavra tão grande e incompreensível, que passei a associar a pessoas vermelhas, agasalhadas em pleno Verão, e também inchadas. Se calhar, eram só comilonas. E cheirava intensamente a enxofre no local dos banhos. Os corredores do "balneário" (era assim que se chamava), que devia ter sido um convento, ou um sanatório, eram enormes, tanto em comprimento, como em largura, como em altura. Hoje, se lá for, sou capaz de achar aquilo tudo apertado, como acho tudo o que são interiores. E sapatos. Havia também uns cinzeiros de louça branca, de dez em dez metros - nos meus passos da altura, de duas em duas derrapagens pós sprint -, que tinham escrito a letras azuis "escarrador". Fonix, não consigo fazer um texto emotivo, com imagens destas. Mas o que querem?, fazem parte da minha infância e os escarradores estavam lá. E os velhos escarravam para lá, quando passavam. Faziam aquele barulho da escarreta, sabem? O que é que foi? Puxa, nem sequer estou a falar em cocó, que sensíveis. Está bem, eu calo-me. Mas não risco o que já escrevi. Eles faziam mesmo o barulho e tudo. Também havia umas pessoas que tomavam banhos de ampulheta, não sei para tratar o quê, mas nós íamos espreitar, mulheres para um lado, homens para o outro. Nunca vi tanto rabo junto. Eram enormes. Mas também não fiquei traumatizada. Depois via as pessoas a beberem uma água turva, que saía de uns bebedouros para copos de vidro de formato espalmado, e não descansei enquanto não provei daquela água, cujo gosto a água de lavar os pés guardo até hoje. Ou de lavar o rabo, mas sem sabonete. Pronto, já estava a ir bem outra vez, tinha que voltar à fase anal.



Mas bom, bom a sério, era ir ao parque, à tarde, depois da sesta que todos dormiam, menos eu. Tinha a mania que era carrapita, já aos cinco, seis anos, não dormia, nem de noite, nem de dia (rimei, genitais! Sou amada sem saber!). Lá nos levavam, pela tardinha, em Vizela e em Setembro às cinco da tarde já refresca, e nós entrávamos no parque as duas, muito direitinhas, numa harmonia de corações a descompassar diante da aventura que íamos percorrer logo a seguir, as vozes dos nossos pais a aconselhar "Fiquem ao pé de nós", e nós tão cabras, "Está bem", naquele fiozinho de voz que só as meninas sabem fazer, já com as duas mãos a agarrarem os vestidos, quatro mãos, dois vestidos, primeiro o fecho, quem é que mandava vestirem-nos vestidos com o fecho à frente?, já a acelerar o passo, "Ó meninas, outra vez, não!", depois os vestidos saíam a jacto por cima e ficavam no passeio, já o passo era de corrida, as vozes do pai e da mãe cada vez mais longe, "Ó meninas!", rápido, rápido, antes que o pai nos alcance, só o ruído dos nossos corações em harmonia descompassada, da respiração que ofegava, das sandalinhas a bater no chão e a fazer ressonância nos dentes, de cuecas as duas por ali afora até à fonte, que era só uma fontezinha, duas cobras de bronze que nos davam pelos ombros, duas conchas no chão onde caía a água mais gelada que eu já provei em mim, ainda estou a ver as árvores, tantas, no nosso caminho, sai da frente, sai da frente, a voz do pai a aproximar-se "Ó meninas!", às vezes nem tínhamos tempo de descalçar as sandalinhas, mergulhávamos os pés, uma em cada concha, e acocorávamo-nos o mais que podíamos para nos molharmos inteiras naquela água gélida.



Por isso, olhem, ao menos já posso dizer que andei de cuecas na rua. Posso não levar mais nada desta vida, mas isso levo com certeza. E também a cara dos meus pais, "Outra vez? Mas vocês não têm remédio?". 

Não.


27/10/2014

Hã?


Olha que eu também tenho que ter cá uma paciência do genital para este Linkedin...

Para quando as Lindor?

Segunda-feira que se preze, começa com conversa de merda/Vinde a mim os comentários ofensivos, que eu hoje preciso

Façam do primeiro título um ditado popular. Um mantra.

Tenho vizinhos de cima recentes. Desde que cá moram, ouve-se, de manhã cedo, na minha casa-de-banho, um ruído flatuloso, não sei se me faço entender. Um peido. Longo e sentido.

- Caramba, ouve-se este barulho de peidos de manhã desde que os de cima cá moram. Olha, é uma boa conversa de elevador, da próxima que o encontre, pergunto-lhe: "Vizinho, aquele barulhinho de manhãzinha, é um alívio de ar? Ora chibe-se. Bufe-se".

- Não estou a conseguir fazer, essa conversa distrai-me. Só me saem bolinhas.

- Pareces a minha irmã. Cada vez que se senta na sanita, parece que vai jogar ao berlinde. 

(pausa. Alguém precisa de respirar diante de tanta informação que eu veiculo logo de manhã)

- Saem para aí uns vinte. Honestamente, nunca os contei, mas sei que passa da dezena. 

(nova pausa. Too much information)

- O maior que eu fiz na minha vida estava grávida. Eh, pá, aquilo parecia coisa saída de uma vaca. O que vale é que ainda não havia telemóveis.

(pausa. O ambiente começa a ficar tenso. Digamos)

- Porquê? Tinhas fotografado?

- Tinha. Para memória futura. Era uma coisa digna do Guiness.

Desculpem, mas eu não falava de cocó há demasiados posts e isto assim não podia continuar.

26/10/2014

Esta piada é só para mulheres*

* Vocês, seus queridos, ide perguntar às vossas dámas o que é que quer dizer "raízes".

Diz uma (enquanto tenta encomendar uns ténis do site da Adidas): "Eu acho que Deus me adora. Está lá em cima a olhar para mim e vai-me ajudar nesta encomenda, só porque eu sou uma fixe".

Diz a outra: "Nem penses. Olha para essas raízes a precisar de retoque e bloqueia-te a encomenda".

E eu, por já estar deitada no leito derivado das dores já suficientemente publicitadas, rebolo-me - literalmente - a rir.

Não tarda nada enfrasco-me em Ben-u-ron

Não consigo comer em público, ou com gente à volta que não me conheça bem - e saiba o quão educada sou à mesa -, e com a qual faça alguma cerimónia. Elevar um garfo à boca dói. Tenho que inclinar a cabeça a níveis tais na direcção do prato, que mais vale meter lá a cara e comer directamente.

Não consigo levar uma chávena de café à boca sem ter que inclinar o pescoço até ao peito. E dobrar o pulso todo na direcção da boca.

Não consigo lavar o cabelo.

Não consigo lavar-me convenientemente. Os ombros, início das costas e praticamente as axilas todas (são só duas?), se não ficaram mal lavados, ficaram mesmo por lavar.

Não consigo pintar-me do queixo para cima. Não consigo pintar-me.

Não consigo lavar os dentes se não meter a cabeça no lavatório. E tenho que os lavar muito devagarinho, sem usar da força (eu costumo usar-me da força para lavar os dentes).

Não consigo pentear-me. Ah, é verdade, isso nunca faço.

Não consigo pôr um par de brincos.

Não consigo pôr perfume atrás das orelhas. Borrifo-me na cintura e já gozo.

Não consigo descer escadas. Mas consigo subir, como as vacas. Posso perfeitamente fazer uma promessa e subir as escadinhas todas, depois vão lá buscar-me de grua. Isto também é válido para o Monte Everest.

Não consigo sentar-me numa cadeira. Quando caio em cima do tampo, não consigo levantar-me.

Não consigo fazer chichi sentada. Não consigo fazer chichi em pé, por outros motivos. Em resumo, não consigo fazer chichi.

Quando, no auge da aflição, me recosto na sanita, numa perfeita diagonal quase vertical (os abdominais não ficaram queimados, vou-me safando com eles), e, muito suavemente, me obrigo a ir sentando, a seguir não me consigo levantar.

A continuar assim, é provável que passe o resto do fim-de-semana sentada na sanita. 

Transformei-me num bicho.

25/10/2014

Udidinha de todo

Hoje acordei falecida.


Levantar um braço ao nível da orelha parece-me uma tarefa à qual nem posso chamar hercúlea. Nem Hércules teria forças para passar a mão no cabelo, depois da aula de body pump que me ofereci ontem. Levar as pontas dos dedos à cabeça, ritual que cumpro, religiosamente, de três em três minutos há várias décadas a esta parte, tornou-se, desde ontem, impossível. Deixei de ter aquela sensualidade ao nível capilar. Cada vez que vou a levar lá uma mãozinha, as dores são tão excruciantes que desisto. Antes (ainda mais) despenteada do que sem braços.

Também deixei de conseguir lavar as orelhas. Sempre posso fazer velas e oferecer no Natal. Dizer adeus com a mão no ar, nem pensar. Vantagem dos outros condutores, já não levam com os meus tóinos quando se portam mal (com uma frequência avassaladora). Acelerar deixou de ser possível. Também me doem as coxas. Já agora, travar idem. E embraiar, porque elas doem-me as duas.

No entanto, hoje fui fazer aula de Pilates. Precisava de qualquer coisa que me obrigasse a mexer um mínimo, sob pena de acabar o fim-de-semana mumificada. Por razões de logística da sala, que eu acho que se prendem mais com a vontade desse grande sacana que é Murphy, tive que ficar em cima de um estrado alto, ou seja, fiz a aula toda numa espécie de palco. À vista de vinte e uma pessoas. Falecida de dores. Mas nem um ai. 

Depois fiz as 15 maçãs do amor que prometi à minha Preta.

Queimei-me duas vezes. Uma pessoa queimar-se com açúcar em ponto de rebuçado significa ficar com um bocado de rebuçado a ferver agarrado ao dedo. Queimei-me das duas vezes exactamente no mesmo sítio.

Udi três tachos pequenos.

Estou toda udida, na verdade. Não literalmente, porque isso também já era pedirem demais a uma senhora da minha idade. Já não dou para as encomendas.

Tomem lá.

O papel celofane risquei-o eu. Detesto-me de tão boa.



Por falar nisso, não aceito encomendas. Agora vou-me ligar ao soro, meter a algália e na segunda-feira espero que alguém me acorde lá para as quatro da tarde porque, antes disso, não estarei capaz.

24/10/2014

Continuo a armar-me em boa e isto um dia explode em todas as direcções

Socorro.
So-cor-ro (é assim que se faz a divisão silábica nas consoantes dobradas, tá? Serve também para a translineação. Nada que agradecer).

O Pilates era muito parado para mim. Eu era muito mexida para o Pilates.

Eu fui para o body pump hoje de manhã. Eu gostava tanto de body pump, a música aos berros, a luz rebatida, a bola de espelhos, as luzes coloridas, parecia mesmo que tinha voltado à discotec, ao disco sound, she is disco, she is disco, she is D - delirious, she is I - incredible, e assim, aquilo tudo ao mesmo tempo que uma pessoa se exercita.

olhem-me lá para estes grandes malucos. Isto é que eram farras

Já não fazia body pump há um ano.

Meti 4 quilos de cada lado da barra. Mas havia lá quem tivesse metido 5. E quem tivesse metido 2,5.

Estou a escrever-vos com um lápis preso nos dentes. Não sei onde deixei os dois braços.

23/10/2014

Se eu não fosse tão boa, era bem menos parva

Não sei se isto acontece com as outras pessoas, mas eu ponho-me em situações, com uma frequência avassaladora, em que me arrependo ainda o processo não vai a meio, ou, pior, ainda nem ele se iniciou. Às vezes dou por mim a oferecer-me para merdas que já sei que me vão custar, mas ofereço-me na mesma, até me impinjo. Chego a arrepender-me antes de me oferecer. Outras vezes, são as pessoas que me pedem alguma coisa, que não percebem os meus sinais corporais "Isso vai correr mal para o meu lado", ou não querem perceber, e então pedem-me para fazer qualquer coisa para a qual eu não estou virada, não me apetece, ou vai-me obrigar a um esforço inútil. Há que pôr a hipótese de eu ser completamente parva. Eu ponho-a, amiúde.

A minha Preta vai participar num workshop de burlesco. Quis levar-me com ela, mas eu não quis ir. Burlesca já eu vou ser daqui a poucochíssimos anos, não preciso de adiantar o processo.

Eu tenho noção que existem vários conceitos errados no parágrafo anterior. Mas não é isso que me traz. 

Aprendi a fazer maçãs do amor à custa de muito tutorial visto no youtube, todas com u sutáki, não pódji mêxê na panéla, tem qui deitá corantchi vêrrrmêlho, tem qui sê em pó, uma receita muito militar. Não pódji quasi nada, viu? 

Como sei que a Preta gosta tanto quanto eu das maçãs doces, vai de lhe oferecer meia dúzia no dia dos anos. Reparem como eu faço por merecer apanhar por tabela mais tarde. Quem me manda ser querida? Chipça penico. E gostou tanto que teve uma ideia que eu até consideraria brilhante, não fora ter que ser eu a realizá-la: quer levar 15 maçãs do amor para o workshop. Vai a parva e diz: "Está bem, eu faço isso". Sou tão estúpida, ando a ver filmes americanos a mais. OK, I'll do it. 

São quinze maçãs do amor, todas envoltas em papel celofane com desenhos a preto, e com um laço de cetim preto cada uma. 

Ai que giro. A sério, acho a ideia gira. Porra, já fui para a retrosaria, para a loja de artes, para o supermercado e para a casa do caraças à cata dos adereços todos. E, cereja no topo do bolo, como não existe papel celofane com desenhos pretos, do que é que a superparva se lembrou? Ah! Brilhante! Caneta de acetato e o papel celofane passa a ter desenhos. Três metros por setenta centímetros de papel celofane. Com caneta de acetato. Dois metros e dez quadrados para desenhar. Desesperei. Peguei numa régua e fiz traços no papel, inspirada por esta linda coisa (as da direita):



Estou tão cansada, tão irritada comigo mesma, nem sequer percebo por que é que me meto nestas empreitadas. Ninguém passa a ser mais meu amigo nem a gostar mais de mim por causa de atitudes deste género. Se calhar, se fosse uma granda cabra ou estivesse sempre de mula, gostavam mais de mim. Assim quase pareço uma santa, mas das tolas. E ainda vou arranjar mais sarilhos, que me vão começar a chover encomendas (ela já me avisou!) e eh pá... 

E também não quero arranjar um lugarzinho no céu, que só a ideia já me enerva. Então porquê, genitais, porquê? O que é que me empurra para estes abismos? Serei sado-maso? Carente? Descompensada? Burlesca, por que não? Freud, onde andas tu quando uma pessoa precisa de ti? Olha, esconde-te. Ainda pioravas.

A sério. Não queiram ser meus amigos. Eu dou tudo, e depois choro lágrimas de sangue. Deve ser do signo.


22/10/2014

Amores sem explicação (todos?)

Vêm com pezinhos de lã e punhos de rendas avisar-me que vou apanhar uma desilusão.

Pausa para respirar e parêntesis para explicar: desde que a Fox está a repetir, pela enésima vez, os episódios do House, que eu vejo, tudo de novo, desde a temporada 1. Assistem ao meu entusiasmo, às minhas gargalhadas, como se não conhecesse as piadas de trás para a frente, às minhas conclusões "Ele é tão engraçado". Engraçado, para mim, significa giro, com pinta e, acima de tudo, que me faz rir. Quem me faz rir, tem-me para sempre, às vezes para lá do suportável. E eles sabem isso.

- É que nós vimos imagens do Hugh Laurie deste ano, e ele está a ficar careca. Tem uma considerável coroa.

Esperavam a hecatombe. Esperavam-me deslargada em lágrimas (?).

- O que é que isso me interessa? Eu não gosto do Hugh Laurie, gosto do House. Com aquele cabelo, aquele mau génio e aqueles olhos. E coxo. 


20/10/2014

Eu sou protagonista de thrillers

As bruxas andam atrás de mim.

Eu sei que só compro porcarias desnecessárias, mas também sei que ninguém imagina que eu fui àquela grande superfície de propósito para comprar três bagulhos. Aconteceu-me. Ia ali a passar.

Não sei o que é que é mais estranho. Digam vocês. Mas ouçam isto, entretanto, se fazem favor. Há que criar ambiente.

1. Vou pagar e a conta são € 3,02.

2. Vou verificar o saldo do cartão cliente e tenho lá € 3,02.

3. Tiro esta bela foto com que vos brindo.

4. Desconto o saldo total (atenção que podia ter descontado "outro valor". É tudo demasiado estranho).

5. Ensaco tudo e, antes de me afastar, espreito para a ranhura da máquina e digo "Andas embruxada".

6. Regresso a casa a fazer composições com aqueles dígitos, a ver se consigo extraír dali os sete mágicos.


Cosmos, o que me queres?

O peão que se agiganta na passadeira

No sábado aconteceu-me assistir a uma - felizmente - raríssima cena, em que uma senhora de idade ia sendo atropelada na passadeira. Era dia claro, duas e meia da tarde, a senhora estava a meio da passadeira, vestida de cores vivas (rosa shock e amarelo, só lhe faltava levar colete reflector e luzinhas de Natal), a passadeira faz o atravessamento de três faixas de acesso a uma rotunda e estavam dois carros parados - um em cada faixa - para a deixar passar, quando, da única faixa livre, surge uma gaja que, não obstante estarem dois carros parados, eu repito, não lhe ocorreu que, não existindo nenhum semáforo a condicionar o trânsito, eventualmente aquelas riscas que estão desenhadas no chão não são uma zebra, e que por cima delas podia estar uma pessoa. Passou pela frente da senhora, que deu um grito e pena foi que não fosse a tempo de lhe espetar com a bengala no vidro da frente. Porque, como é óbvio, não estava ali nenhum polícia e, se estivesse, estaria a guardar um banco, um telemóvel ou um cigarro. Naturalmente, a vaca não parou (a pressa é sempre justificável, se não for para tirar a mãe da forca, há-de ser para cagar), tendo deixado a assistência à senhora por conta dos outros automobilistas.

Ora, isto deu-me que pensar no quão injusta é a vida, a começar porque a porra do Euromilhões ainda não me atingiu em cheio, e a acabar na forma como são distribuídos os acasos da vida relativamente ao comportamento dos peões versus automobilistas. Porque eu às vezes também sou peão e às vezes também conduzo, e, se calhar por isso, compreendo os dois lados de coise.

Eu sou aquele peão que atravessa. Reconheço que forço a que o carro abrande e ou pare, que nunca acelero o passo se vejo que o sacana não só não vai parar como também até acelera - sim, corro riscos, mas, naquela hora, dou a minha vida para obrigar um FDP a puxar as rédeas ao cavalinho, e vá lá ser excitado para casa -, que até acelero o passo se fizeram a gentileza de me dar passagem só a mim, numa passadeira sem semáforo. Tudo isso.

Já enquanto condutora, o que tenho a dizer é que há peões a que só apetece dar uma trancada e chutá-los para o passeio de gatas. Mas que raio da merda é que têm na cabeça quando: 

1) Subitamente, mal iniciam o atravessamento, abrandam o passo a expoentes máximos? Estão a dançar moonwalk? Foram acometidos de paralisia? Ralenti? Hemorróidas? Juro que estou à espera do dia em que um destes saque da toalha e monte o pique-nique na passadeira.

2) Atravessam de telemóvel em punho, a digitar teclinhas? Poderiam, por favor, adiar o que estão a fazer por cinco segundos, que até podem ser a diferença entre a vida deles e a morte? E se eu me fartar de esperar? E se vier de lá um desabrido e nos amassar a todos uns contra os outros? Hã? Pá, menos dedos a mexer, mais cus.

3) Atravessam em diagonal, de costas, pelo que só dois ou três dos passos que percorrem é que pisam a passadeira? E a diagonal alonga-se tanto que me obriga a esperar ainda mais. A ti, peão da diagonal, fica aqui o meu apelo: a mim não me interessa ver-te por mais do que aqueles cinco segundos que dura o teu atravessamento, e estou-me nas tintas para os teus sapatos novos, para o teu cabelo fantástico e para o teu corpo uau. Sai. Da. Frente. Uau.

4) Julgam que a passadeira é uma ponte (e é uma passagem p'ra outra margem) e os carros que parem? E explicar a estas pessoas que os automobilistas não conseguem adivinhar as intenções de toda a gente que circula a pé no passeio e, às vezes, até já estão em cima da passadeira quando elas surgem? Nem tento.

5) Atravessam em passadeiras, à noite, em vias mal iluminadas, vestidos de cores escuras, e pretendem ser vistos a mais de quatro ou cinco metros? Ao menos, dancem. Façam flique-flaques. Andem munidos de isqueiros. Liguem o telemovelzinho, agora sim!

6) Em geral, os que atravessam sem agradecer? A estes não dava uma trancada, mas não era mal visto arranjar um apito de estrada e brindá-los. É ilegal, mas ia-me saber a ginjas. Também é ilegal irritarem-me e irritam-me. Olha. 

Só de me lembrar disto tudo já estou nervosa. Pxá vida.

19/10/2014

Sí cariño, llámame gorda

Esta coisa de ninguém saber quem eu sou tem que acabar.

(post escrito por inspiração de uma almost private conversation com a Sister V.)

18/10/2014

Levei uma de Pilates

E cheirou-me a chulé. Povo que vais ao Pilates: Por favor. Por. Favor. Lava os pés.

A monitora disse coisas que o meu word sublinharia no próprio momento, a vermelho. Fiquei a saber que o que importa é a consciensação (acho que do próprio corpo, bloqueei um niquinho nesta altura). E que iríamos trabalhar o soalho pélvico naquela aula. Ou terá dito chão pélvico?  Ou parquet pélvico? Não interessa, retive o pélvico. Como não explicou do que se tratava, embora imagine que algures na pélvis, acho que não trabalhei bem o meu pavimento pélvico. Coiso pélvico. Mas na boa. Houve também uma altura em que nos mandou pôr o bracinho alinhado com o sutiã, o que foi bem, tendo em conta que dez por cento dos presentes eram homens.

Neste novo gym, chamam Pilates a uma coisa que eu fazia no outro, mas a chamar-se Stretch. Ontem fiz uma aula de Stretch neste, que equivale a qualquer coisa semelhante a uma localizada muito ligeira no outro. Tenho que me focar que pago 15 euros por mês, posso lá ir três vezes por semana, tenho lugar de estacionamento e o balneário é limpíssimo. Se pedir mais, ainda me entregam um jerrican com água das malvas. 

Portanto, passei uma aula inteira a esticar-me, a dobrar-me e a ouvir gemer. Ora porque lhes dói o pescoço, ora porque lhes dói o ombro, ora porque lhes doem as costas. Até perceberia este estado lastimoso da nação se tivesse ido fazer uma aula com idosos de 90 anos, que é praticamente a minha faixa etária. Agora gente que anda cá há duas ou três décadas a passar mal por levantar uma perna do solo, a mim dá-me suspeitas que aqueles soalhos pélvicos estão em péssimo estado, derivados do excesso de uso de computas.

E agora vocês pensam: "Lá está a gaja a armar-se em boa, com a forma física". Está bem. Já não são os primeiros que me amandam essa pedra. Mas a que tem o parquet impecável sou eu. Beijo.

17/10/2014

Hoje calcei botas

Foi a primeira vez, depois do Verão (?). É que tem chovido muito e a extrema resistência em não as pôr podia muito bem ter-me dado cabo das sandálias (eu este ano andei de sandálias à chuva, a levar pinguinhos nos dedos) e dos sapatos, coitados.
Eu sinto o amor pelas minhas botas.


Mas ainda tenho um triquini por estrear, o que não pôde ser antes porque dias como o da passada segunda-feira não permitiram.


Talvez no domingo.

E sim, estamos na segunda quinzena do mês de Outubro e, aparentemente, ninguém tomou ácidos. Falo por mim.

CATS, tudo miau

Não sei se fale do espectáculo, da envolvência ou de mim. Vou falar de tudo, se não me escapar nada (La Palisse, tu vives!). É que fui preocupada. Muito li e se disse acerca da sala do Campo Pequeno, que não era própria, e das cadeiras que magoam os rabos, e do som, que arranha os ouvidos, e das casas-de-banho, que prontos. E eu, por acaso, que até sou uma nojenta do pior e jamais urino (defecar então, esqueçam) numa dessas casotas, ontem até fui despejar a imperial que tinha bebido ao jantar, e a casa-de-banho estava a modos de se poder lá fazer qualquer coisa na direcção do alívio. Honestamente, e não desfazendo, ia mais preocupada com as minhas pernas inquietas. Um espectáculo daquele tamanho, à noite, ia-me dar uma crise das boas e deu. Portanto, a parte da cadeira ser desconfortável, passo. Esse pormenor tornou-se secundário, ou melhor, terciário, quando tinha outros dois a atormentarem-me muito mais: as pernas a picar e com comichão e os joelhos a bater nas omoplatas da senhora da frente. Esta semana foi, portanto, uma semana de auto-conhecimento e grandes revelações ao nível físico: tanto fiquei a saber que sou  gorda, como me apercebi que o meu fémur é demasiado grande para caber nos intervalos das filas do Campo Pequeno. Fiquei na fila B, aquela que tem a fila A à frente, sabem? A reter: quando comprar bilhetes para o Campo Pequeno, escolho fila A ou C, visto que a C também goza de um bom espaço para as pernas, já que confina com o corredor de passagem. Eu prefiro que, da próxima, as minhas pernas confinem.

Quanto ao som, nada a reclamar. Não sei se sou eu que sou mouca e não dou por nada, mas, para mim, estava de bom decibel. Ouvi tudo claramente e nada me irritou o tímpano. Luzes, excelente. Vi tudo com clareza, também. Agora, o corpo de baile, a sério que existe quem possa pôr defeitos naquele corpo de baile? Hahahahaha. Desculpem. Hahaha. Estou um bocadinho histérica, dormi muito poucas horas e estou com jet lag. Hahaha. Onde é que eu ia? Bom, eu explico o que é que me está a fazer cócegas: é normal cair em palco. Não devia ser, mas é. Eu já vi N espectáculos de ballet e de dança e em nenhum deles - repito, nenhum. Só mais uma: nenhum - deixou de haver quedas. Nem os russos escaparam. Nem o Royal Ballet. São as sapatilhas que não estão enceradas, é o chão que está demasiado encerado ou molhado, foi o treino que escapou, ou o azar que não escapou, há mil merdas. E é claro que ia preparada para assistir a uma queda das boas. No mínimo. Até porque o palco era pequeno para tanta gente e tantos adereços. Nada. Firmes e hirtos como barras de ferro, sincronizados a uns 90 % e ah, não esquecer que estamos a falar da Broadway, em que se dança e canta ao mesmo tempo. Então, a quem ainda restam dúvidas que aquilo se faz com uma perna às costas, experimentai. Ou então, ide assistir a um espectáculo do La Feria e depois conversamos.

Cômputo final: foi dinheiro bem dado pelos bilhetes, não me dói o rabo e fiquei a perceber um bocadinho melhor as minhas gatas.

16/10/2014

O que nos distancia são dez ou doze (centímetros e quilos de resolução emocional)

Eu não desisto de tentar perceber a natureza humana. Ainda que me digam que o que vou descrever pode ser um caso isolado e, portanto, apanhei a pessoa, exemplar único no mundo, ainda por cima, num dia não, eu digo não. Já cá ando há anos suficientes para saber que isto é um estilo, é uma seita, é um grupo, uma multidão: as gajas mal resolvidas da p. da vida.

Senão vejamos: entro na GANT (ai desculpem, não é publicidade, é que eu vou dizer mal. Posso dizer mal no meu blog que praticamente só eu leio, ou já me vão soltar os cães? Ai que medo) do Colombo, com a intenção de comprar uma camisa de homem para prenda de anos. A minha generosidade não tem limites, assim como a minha ingenuidade. Vou preparada para um choque económico, uma vez que, ali dentro, tudo é caro. Tipo tudo.

É quando chego ao centro da loja que ela me surge do nada, com um boa tarde, que retribuo. Isto é importante, para se perceber (ou eu perceber) onde foi que eu errei. Antes que me fizesse a pergunta que me enerva, disse-lhe a frase que a enervou a ela: "Preciso da sua ajuda". A tipa colocou logo as sobrancelhas extremamente depiladas quase ao nível da raiz do cabelo. Ainda ponderei se terei conjugado mal algum verbo. Ou se, caso tivesse entrado na loja a sentir-me mal e tivesse dito aquela mesma frase, a atitude dela seria a mesma. O que as irrita é que eu tenho esta aparência de quem vende saúde. Caguei nela. Descrevi o que queria - tipo, cor e tamanho. Não tinha muito o que enganar, só havia dois modelos que obedeciam aos meus parâmetros. É claro que Murphy determinou que ela fosse buscar o que eu não queria, para que os níveis de tensão mútua se intensificassem. Impassível, esclareci-a que era do outro modelo que ia à procura. As sobrancelhas dela raiaram o topo da testa, gigante, por força de um rabo-de-cavalo agarrado à cabeça a ponto de lhe repuxar a cara toda para trás. Ficou contrariada, a pobre. É que preparava-se para me vender uma camisa de 90 euros (leram bem), mas tinha que ser ela a decidir qual é que eu trazia, sabem porquê? Porque já tinha decidido que não gostava de mim desde o primeiro momento em que eu cruzei a porta. Caguei nela. E caguei tanto, tanta quantidade e com tanta força que comecei a lide. Aprecio quando elas querem tourada, mas ainda não decidiram quem fica no papel da vaca. Equaciono repetir o discurso que já várias levaram, "Está mal disposta? Se eu chegar a comprar o que venho aqui comprar, provavelmente isso vai-se reflectir no seu ordenado, portanto, mude de cara", mas esta pôs-se numa situação de inferioridade que me faz sentir uma cobarde só de pensar em avançar por aí.

- Deixe-me ler a etiqueta. Não gosto de apanhar sustos ao balcão. 

Pá, até estava a ser querida, a brincar e tudo... mas a tipa já me odiava, por ter mais dez ou doze centímetros do que ela, por ter menos dez ou doze quilos que ela, por não ter aquele rabo de cavalo tão colado à cabeça, nem aquelas sobrancelhas tão extremamente depiladas, nem aquelas unhas de gel grosso e roxo, gigantes, lascadas, hard core da Picheleira.

Foi com estes pensamentos pecaminosos que paguei, contribuí para o sustento da antipática, e saí da loja. 

Digam-me: o que é que eu fiz de mal?

Não, digam-me antes: qual é o problema destas pessoas?

Ó pá, não me digam nada. Fonix, é só tormentas o que a boa aparência dá.

Calem-se que eu só soube ontem que sou gorda e agora preciso de processar esta informação


15/10/2014

É desta que armo a peida

Informei-me. Descobri um ginásio perto de casa com um plano a 15 euros por mês, que me dá acesso à sala de treino e às aulas três vezes por semana, desde que à sexta, sábado e domingo, o tempo que eu quiser, e com acesso ao parque de estacionamento. Também me devem lavar o rabo com água das malvas, não perguntei. No dito plano contêm-se aulas de body pump (conheço, fiz muito, aguento e gosto), pilates (não há-de ser muito diferente de stretch, uma das minhas favoritas), blast dance (só percebo a segunda, desde que não seja no varão, que eu sou alérgica ao metal, I'm in!) e blast bunda (se calhar, é melhor informar-me o que raios quer dizer blast, não vá a coisa dar para o torto e depois não poder queixar-me no livro da ASAE). Como se eu precisasse Vou ficar toda tónus no códril, depois é verem-me a desfilar no meu bairro, toda emproada de estilo e a sentir-me a maior da minha rua.

14/10/2014

Eu vou comprar a casa da vizinha, mas agora ela já sabe

A vizinha e eu encontramo-nos à porta do prédio que, no fundo, é o tecto de ambas.

- Parece que outro dia percebi que precisa de aumentar a sua casa...

Preciso. Sapatos. Malas. Livros. Não necessariamente por esta ordem (escrevi isto para me armar em intelectual da merda, porque estou mesmo preocupada é com as malas e os sapatos e sou oca como um balão de hélio, só me falta a voz ridícula com que se fica quando se aspira). Nem é tanto roupa, mas também ajuda. Tenho as minhas malas a amolgarem-se umas contra as outras. Os sapatos estão por todo o lado. Não sei se já disse que estou preocupada com as minhas malas e com os meus sapatos. Nem durmo.

- Sim. Sinto falta de espaço.

Esta é a única verdade. E é uma verdade literal e metafórica. Asfixio.

- Sabe, eu não sou uma pessoa muito apegada a casas. E até vendo a minha casa, mas isto está tão mau...

Desatei a ouvir violinos. Não, espera, eu nem sequer gosto de violinos. Piano. I like Chopin.

Pronto. Já só me falta o dinheiro.

(primeira medida a tomar: deitar fora a porcaria do tapetezinho da entrada, onde toda a gente se descalça. Deve tresandar a chulé)

13/10/2014

A autoridade respeita os meus cabelos (que só não são) brancos (porque os pinto)?

Estaciono o carro numa esquina, a fazer vértice às duas ruas daquele cruzamento. Duas rodas em cima do passeio. Já dei três voltas aos dois quarteirões e não há um único lugar onde possa deixar a viatura. Em compensação, portões de garagem e garagens-oficinas, há várias. É assim Campolide. 

Já estou a tirar o carro, motor ligado, passa o carro da polícia, com quatro marmanjos lá dentro. O que ia ao volante era giro, óculos de sol a taparem-lhe os olhos (que até podiam ser estrábicos, mas isso nunca saberei), ao lado dele uma senhora agente, atrás sei lá. Veem-se e desejam-se para fazerem a curva, por minha causa. Param mesmo ao meu lado. Entreolhamo-nos. Ela abre o vidro, o giro assoma-se todo para que o contacto visual, apesar de os óculos dele serem opacos, se processe convenientemente. Eu encaro-o, cheia de coragem. Tomates nunca me faltaram e não roubei nada. No entanto, começo a fazer subtracções impossíveis na minha magra conta bancária, na mira da multa que vou apanhar. Das multas, plural. É só eles quererem. Ainda por cima, com uma mulher ao barulho, menos hipóteses tenho de bater pestanas e, distraidamente, pousar o indicador em cima dos lábios. Caem todos. Mas não posso subestimar a senhora. As gajas costumam odiar-me. Amor com amor se paga. É ela que inicia a lide:

- Bom dia.

- Bom dia.

- Tem o carro um bocadinho mal estacionado.

- Um bocadinho. Estava precisamente a pensar nisso, neste momento.

- Se calhar, era melhor retirá-lo daí.

- Se calhar. Assim que me deixem fazer a manobra. Para já, não consigo...

- Bom dia.

- Bom dia.

Não sei se estou a perder ou a ganhar qualidades. Não precisei de fazer cara de estúpida, nem de forçar um jogo de sedução desalinhado do contexto. Bastou-me dialogar. Tenho que rever a minha postura.

Ando a acertar nos números do Euromilhões todos, mas ao lado


Assim como acertei no primeiro caso suspeito de Ébola em Portugal. Eu disse segunda ou terça-feira, em Elvas ou Valença, não foi?


Fiquei a 131 quilómetros.

Temo-me.


11/10/2014

Boas fitas

Vi "Em parte incerta". Poupo-vos às minhas apreciações sobre Ben Affleck, que não são para aqui chamadas. Quanto ao filme, ide ver. Quem gosta de thrillers, fica quase contente com este. Mas eu encontrei alguns pormenores na investigação criminal que não batem muito certo. E também tenho uma teoria muito pessoal, quanto a esse género de filmes, que é que eles devem parecer um espectáculo de malabarismo: um bom salto ao início, um excelente mortal a meio, um épico mortal à rectaguarda no fim. A este só lhe falta a última cambalhota. Vim de lá com uma sensação de ahhh-quase. Mas isso sou eu que sou esquisita.




Vi nas apresentações "Os gatos não têm vertigens", e fiquei agarrada à história. O amor entre um rapaz de 18 anos e uma senhora de 73? Improvável, mas, já agora, espreita-se. Tenho que ir ver.



Já agora, amanhã passa no AXN um excelente filme, cheio de suspense e mistério: "Premonição". Já vi, mas vou rever, porque vale mesmo a pena.

10/10/2014

Não me apetece entrar nesta briga absurda

Por isso, tenho que parar de passear na blogosfera. Já li chamarem estúpidos, fundamentalistas e esquizofrénicos às pessoas que gostam de animais.

Sabem, eu conheço pelo menos uma pessoa que tem um gato, diz que gosta dele, trata dele, põe-lhe comida, eventualmente limpa-lhe a caixa de areia, ou manda alguém limpar, mas não lhe admite um afago, uma aproximação do focinho que lhe imprima uma humidadezinha na pele, nunca lhe passa a mão pelo pêlo. Não sei como é que o bicho ainda não morreu de tristeza. Essa mesma pessoa abandonou um gatinho de dois meses, antes de ter este, porque se fartou dos "ataques que lhe davam" (os gatos têm ataques, aquilo é um felino domesticado).

Sabem o que vos digo? Matem os vossos bichos, à cautela, não vão eles encher-vos a casa de parasitas e doenças que andam no ar. Mas não deixem de fumar.


09/10/2014

É só a mim que cheira a droga?

Foi o Meningitec para uma pandemia de meningite que nunca houve.

Foi o Tamiflu para uma pandemia de gripe A que nunca houve.

Este agora vai chamar-se... tanto faz, o importante é escoar. Milhões de euros, de uma droga com prazo de validade a expirar, distribuídos a um país que já está completamente penhorado e que, talvez também por isso, é mais facilmente manipulável na criação de uma situação de pânico. Ganham todos, desde a grande indústria farmacêutica, máfia de dealers a uma escala global, até aos governos dos países pobres. Só não ganham os contribuintes, endividados, amedrontados, esmagados por impostos absolutamente pornográficos. A esses manda-se pede-se que vão, direitinhos, à farmácia, comprar a droga cujo nome há-de ser divulgado, contribuindo com o seu dízimo. Vai uma aposta em como para a semana, logo ao raiar de segunda ou terça-feira, temos um caso em Elvas? Ou em Valença?

E não, não estou a delirar. Não sou a única que pensa assim. Obrigada, Silent, pela partilha. Estava a ver que a minha mania da teoria da conspiração já era patológica.

08/10/2014

Eu fiz o amor (de maçã)

Correram-me mal, as putas.

Gosto tanto de maçãs do amor. Não sei se gosto mais pelo sabor ou pelo aspecto. É que nem sequer gosto muito de maçãs, fruto mais vulgar, com tantas variantes, sem época específica, rodeado de mística, descobertas científicas e ditados populares, até me custa a crer que a Eva o tivesse oferecido ao Adão. E, pior, que ele o tivesse aceitado e ainda tenham sido expulsos do paraíso por causa de uma maçã. Olha se fosse comigo. Devolvia-lha. Ainda se fosse um diospiro. Ou uma fatia de melancia. Ou um bom cacho de uvas pretas. Agora uma maçã.

A primeira vez que comi maçãs do amor foi na Eurodisney (eeh, já fui à Eurodisney!) e depois nunca mais, durante largos anos, até que me deram oportunidade de participar na organização de uma festa de uma escola, e então eu fiz finca-pé e amuei enquanto não me prometeram que metiam lá as maçãs do amor, e assim foi. Comi que me regalei. Pelo que percebi, só eu comi, mas caguei (literalmente, mais tarde, e em sede própria).

Há uns anos descobri que também há na Feira da Luz, mas essa feira só dura um mês e eu não consigo abastecer-me da falta que elas me fazem entre Outubro e Agosto.

Então meti mãos à obra. A receita é para 12 maçãs e é cheia de salamaleques: não se mexem os ingredientes, a colher não pode, em circunstância alguma, entrar no tacho; há um ponto óptimo na caramelização, que não pode ser antes, senão fica melado, nem depois, senão azeda; os ingredientes são rigorosamente aqueles, não se pode substituir o corante em pó pelo corante líquido. E etecetra, porra.

Para bem dos meus nervos, fiz 1/3 da receita. Pus 1/3 das quantidades nos ingredientes. Mas fiz tudo bem, só devo ter falhado na questão do tempo que a mistela está ao lume.

Ficaram feias, mas boas, tipo algumas gajas que, depois, mais tarde, se vingam da sorte maldita de só se aproveitarem vistas de costas. Mas comi-as na mesma (neste momento, das quatro, só sobra uma, que é a irmã mais feia*) e matei algumas saudades. Quando apurar a técnica, venho contar como foi (com prova documental junta).

*
imagem que é uma private joke, ou seja, só para uns quantos. Muito à frente.

Reforço a minha convicção íntima com esta terna imagem


07/10/2014

Eu sou aquela pessoa que nunca, em circunstância alguma, deves levar ao supermercado

Vejo cenas.



Quando vejo as gatas a atirarem-se à parede

já sei que vai chover. Ontem andavam as duas aos saltos verticais. Acho que já fui gato noutra encarnação. Só me apetece lançar-me à parede, também. E, às vezes, dormir como elas.

É sinal, também, que vou deixar completamente de ter mão no meu cabelo. E que vou deixar de saber o que calçar. Ontem calcei meias pela primeira vez e morri de calor. Isto que vos escreve é um fantasma. Hoje já espartilhei o delicado pezinho nuns sapatos fechados, mas meias, nem vê-las.

É possível que nada deste assunto interesse. Não sei onde estava com a cabeça quando comecei a escrever este post (há cerca de uma hora e meia. Interrompi, fui à rua, vi um rapaz de calções e chinelos de praia, e percebi que há pessoas mais graves do que eu. Este deve ter sido lavadeira de Caneças noutra encarnação. Ou varina da Madragoa), mas precisava de desabafar, e, portanto, eis-me. Também posso falar de cuecas, só para experimentar o impacto do tema.

Cuecas, cuecas, cuecas.

06/10/2014

O meu computador foi com os porcos

ia ali a passar uma vara e lá foi ele.

Um dia, está quase a fazer duas semanas, o meu computador morreu. Não posso dizer que tenha ficado muito alarmada, porque tenho backups da maior parte daquilo que eu considero importante (o que só constatei mais tarde mas, ainda assim, não me alarmei), ou enviei para mim mesma, e tenho em anexo de carinhosos automails, a chamar-me querida e mulher da minha vida. Por acaso, não, mas é boa ideia, para aqueles dias em que uma pessoa está virada de pernas para o ar. A muito custo, ao fim de milhares de tentativas, consegui que ele se ligasse, o que ainda deu para fazer mais backups (durante os quais morreu mais não sei quantas vezes), que me foram extremamente úteis. Já vamos ver porquê, se vocês aguentarem e eu não me esquecer de contar. 

Fui levá-lo ao estaleiro e ele voltou arranjado, de disquinho novo, portanto a Judiciária pode cá vir a casa espreitar o meu disco que este está virgem até às orelhas, dado que ainda não teve tempo de chafurdar na lama internética, ou não fosse ele o disco rígido de uma Porca. 

Só que eu preciso de um programa para trabalhar que me enche a máquina de pop ups. Mesmo agora, estou a escrever esta bela peça da literatura infanto-juvenil que são os meus posts e aparecem-me etiquetas por todos os lados, vindas de baixo, da esquerda e da direita, anunciando-me prémios vários e dando-me os parabéns por ter ganho um aifôni. Em compensação, tenho vindo a instalar todos os programas que tinha antes e que me uderam o outro disco. 

Portanto, estou nessa, Vanessa. Até mesmo escrever um post se tornou uma pequena aventura, um jogo de escondidas, entre as minhas boas frases e as mil janelinhas de oportunidade que se apresentam à minha frente. Só isso explica que tenha estado uns dias sem dar o ar da minha graça, atolada que estou nesta desgraça. 

(a sério que até estou com pena do Picasa. Acabei de o instalar e o pobre está a sugar as minhas fotos, uma a uma)


02/10/2014

A mim também me custa

lidar com pessoas.

Não é com todas, mas, neste momento, com algumas, que me surpreendem, quase me matam (não sei se de riso, gozo, ou pura seca) e me prendem com conversas que eu não posso, não quero, nem tenho tempo para ter.

- Sabe lá o que foi este ano. Primeiro, no Algarve, uma água gelada. Depois, na Isla (sei lá se disse Canela, ou Gaviota, sei que era uma da Andaluzia), logo ali ao lado, uma água quente, parecia mesmo que estávamos noutro país.

Depois a outra, que já se está a tornar uma ideia fixa. Qualquer coisa que eu diga ou faça, resulta na resposta "A minha Tatiana e o meu Daniel também". Por exemplo, eu espirro. Basta que diga (oh, boca rota!) "Estou mesmo constipada". Recebo a tal resposta.

Estou tentada a dizer, só para experimentar: "Estou mesmo aflitinha para cagar".

01/10/2014

Eu vou comprar a casa da vizinha, mas ela ainda não sabe

Este é um plano que eu quero concretizar a breve trecho. Faltam-me só acertar alguns pormenores de somenos importância, nomeadamente ter a verba suficiente para a aquisição e depois para as obras de siamesação (inventei, porquê?) e, mais tarde, convencê-la a abandonar a casa onde vive, a bem ou a mal. Eu preferia a primeira, porque eu sou pelo bem. Mas já tenho tudo pensado, caso ela insista em manter-se na casa que é dela por enquanto. Na verdade, tenho a vida facilitada, já que ela tem uma filha que grita desalmadamente sempre que está acordada, o que acontece para aí dezoito horas por dia. Passo a chamar a autoridade. Ela (mãe) há-de-se cansar. Também posso fazer ruídos a desoras. Posso dar festas de arromba, com o argumento que depois de velha é que me deu para parva. E paro à meia-noite, só para não dar aso a falatórios. 

Hoje não aguentei mais de expectativa e bati-lhe à porta.

- Quem é?

- A vizinha!

Ela abriu em fato de treino. Ai que giro, às vezes parece-me que moro num daqueles bairros tipo Massamá (isso é cidade, vila, aldeia...? Who cares?). Perguntou-me se queria entrar, mas só depois de passar a primeira barreira, que era um tapete de plástico que tem à entrada, a partir do qual todas as pessoas que entram em casa têm que se descalçar. Ela estava calçada, fora do tapetinho, a batoteira. Como temi que houvesse um tapete mais adiante que me obrigasse a tirar mais alguma peça de roupa, estaquei ali, com a desculpa que não me ia demorar. E dei comigo a perguntar-lhe, de chofre, se quer vender a casa dela. Tenho que tratar este pequeno Tourette. Ela disse que não. 

Ainda assim, espreitei de cima do tapetinho de plástico e a casa é roxa. Não, não é lilás, é roxa. E ela, contente, apontou para a única obra que fizeram lá dentro, que foi "o escritório" - uma estante a meio do corredor, naturalmente sem luz natural, onde está um computador, é "o escritório".

Vim de lá com uma vontade acrescida de alugar a Marlene Dietrich e partir aquilo tudo, salta "o escritório", saltam as paredes roxas, só parava mesmo na casa da velha do saco do El Corte Inglès, que com essa não me meto eu. Ela tem poderes.