06/04/2014

Apesar do sol. ☼

Apesar do sol.

Uma pessoa entra no Continente e tem as voluntárias da Cruz Vermelha à entrada. Não sei se já aqui ficou suficientemente claro que eu dou tudo. Sou dada. Dou sangue e, quando não posso dar sangue porque tenho baixa hemoglobina, como bróculos, beterraba e espinafres (tudo sem um ai, porque, vá lá, gosto tanto e tão genuinamente), quando nem isso resulta tomo comprimidos de ferro, que me ficam a 8 euros a caixa e me dão para um mês, e tenho que tomar três caixas para repor os níveis, portanto até pago para dar o meu sangue, são 24 euros de ferro, ófaxavor. Eu dou todos os meses (todos, não é só no Natal) para a UNICEF, dou quatro vezes por ano para os velhinhos (e não 12 vezes por ano porque eles ainda não descobriram o meu ponto fraco) da Associação Samaritana, dou tudo o que já não me serve e que esteja em condições de outra pessoa usar com dignidade, dou a mão, dou o braço, dou o corpo e é de graça, mas, por favor, não me peçam. Basta virem gemer que o filho já não tem nada que lhe sirva ou virem para cima de mim a gritar que têm fome, é certinho que me apanham de costas, mas em posição de fuga em frente. Uma coisa é apresentarem-me uma realidade e uma alternativa, como "a tua dádiva vai vacinar uma criança por dia", outra coisa é "dá-me dinheiro e ode-te para aí com a falta que ele te pode fazer, porque desde o momento em que mo dás, eu não mais terei que te prestar contas do que é que lhe fiz". 

A distribuição de sacos à entrada do supermercado é coisa para me agastar faz tempo. Dantes era só o Banco Alimentar (mais uns para os quais contribuo com transferência bancária, quais cá feijão e arroz trinca), agora é tudo e mais um par de botas, e também para o cão e para o gato, porra, cada vez que me lembra dos gajos de Famões no Natal. Ontem e hoje, a Cruz Vermelha, que é uma associação que não me inspira a melhor das confianças e não me perguntem porquê. Não sei se faço confusão entre o palácio da Cruz Vermelha (caríssimo), o Hospital da Cruz Vermelha (que as diversas administrações que por lá passaram, conseguiram magistralmente falir), a Cruz Vermelha Portuguesa (ambulâncias?), que não dá um peido em prol da saúde dos portugueses, não sei se sou eu que já não posso ver sacos de plástico à entrada do Continente, não sei se estou a ficar velha ou se, tudo isto junto, me provoca a repetição em série da primeira palavra que aprendi a dizer na vida - NÃO -, a verdade é que já os finto e, quando eles me placam, como hoje, vai um directo não e só me frustra que não me perguntem porquê, que eu explicava: porque, de entre outras razões, não sou hipócrita o suficiente para aceitar o saco e depois ir largá-lo num corredor qualquer. Já cresci, já amadureci bastante para dizer não sem complexos, mas também explicar que tenho opções e nem tudo o que gane me parece um canito abandonado, sorry. Ou nem isso.

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