30/03/2014

Madrinha atípica


Íamos entrar no elevador do prédio da nossa afilhada de baptismo, que faz hoje nove anos. Visita de padrinhos, beijinho maior e, modéstia à parte, uma prenda linda, escolhida por mim: um Swatch piroso, cor-de-rosa, cheio de brilhantinhos. Eu vesti um vestido de malha que se me cola ao corpo e uns collants de cintura descaída (não sei por que c. inventam estas merdas), que, conjugados com o vestido, me fazem sobressair o pneu de forma exponencial. Eu tinha acabado de decorar o código do elevador, pela enésima vez, já que tenho que o decorar de novo de cada vez que lá vou. São cinco dígitos, sem lógica nem musicalidade, de maneiras que o espaço de tempo que dista entre a porta do prédio e a entrada do elevador é suficiente para esquecer aqueles 5 algarismos tão desencaixados uns dos outros. Tinha também as unhas a secar e entrei no elevador quase burra, com os cabelos ainda húmidos de os ter lavado e da chuva que apanharam, as unhas ao alto, os collants a sobressaírem-me o pneu e a memória dos números a querer falhar. Então pedi-lhe:

- Quando entrarmos no elevador, sobes-me o vestido, puxas-me os collants para cima e voltas a baixar-me o vestido, senão ainda odo uma unha. Ou as dez.

Entrámos no elevador e ainda não digitei o código, desata ele a subir-me o vestido. A porta aberta e a memória do código a esvair-se. 

- Espera, tenho que digitar o código.

Tic-tic-tic-tic-tic, com a agravante que os botões não existem: é tudo digital, numa placa iluminada. Código errado, porta aberta, ele agarrado ao meu vestido. 

- Espera, tenho que digitar outra vez. 

Tic-tic-tic-tic-tic, código certo, porta fechada, elevador a andar. Puxa-me o vestido para cima, agarra-se aos meus collants com toda a força, de caminho agarra também nos elásticos das cuecas e puxa tudo para cima. Tudo. E tanto. E com tanta força. Fiquei com partes de cueca intestino grosso acima, canal vaginal adentro, mas os collants no sítio, e sem pneu. Baixou-me o vestido e entrámos em casa da afilhada quase recompostos, não fora ir a rir-me muito, dos nervos de ter acabado de ser duplamente violada por um par de cuecas. Fiz uma visita... bom, melhor que a do ano passado, que decorreu num restaurante, onde enjorquei duas caipirinhas em jejum, no fim das quais ouço a vozinha dela, ao meu lado, a pedir: "Ó madrinha, cortas-me o bife?". Experimentem lá cortar o bife a uma criança que está sentada ao vosso lado com duas caipis em jejum em cima dos cornos e depois falamos.

2 comentários:

  1. Ainda me tou a rir, LP... :)

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    1. Pobre criança, quando um dia perceber o que lhe calhou na sorte, muda de religião :D

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